Cultura
digital e o cotidiano das escolas inspecionadas
Sou inspetora escolar. Visito as escolas sob minha responsabilidade,
com objetivos diversos, entre eles orientação quanto às diversas
legislações educacionais, tais como de vida de pessoal, vida
escolar, área pedagógica, quadro de pessoal das unidades escolares,
etc.
Participo do cotidiano das escolas. Não percebo uma cultura digital
propriamente dita formada nesse ambiente. Me deparo com proibições
de uso do celular, professores que acham desperdício de tempo uma
aula na sala de informática, pessoal despreparado totalmente em
relação às diversas tecnologias, e outras coisas do tipo. Não que
eu mesma seja expert em tecnologias, mas falo de coisas básicas
mesmo, conhecimento basicão.
Fico completamente impressionada com essa realidade, considerando
que a escola é o lugar do saber, não apenas do saber conteudista,
mas do saber significativo, do saber para a vida. E falando em
tecnologias, falamos em saber para a vida cotidiana hoje, não existe
mais separação, não existe possibilidade de vida além das
tecnologias rsrs.
Mestre Paulo Freire já dizia “Se a educação sozinha não pode
transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” Logo,
se a escola proíbe e não se apropria das tecnologias, não as usa
para transformar a sociedade, esses educandos que são a promessa de
continuidade da sociedade não serão mudados e não mudarão como é
necessário para que a sociedade não morra em incoerências e
inconsistências. Precisamos de que se provoquem, no cotidiano das
escolas, perguntas e olhares que tragam novos entendimentos sobre o
tema, que sejam capazes de produzir mudança primeiro nos personagens
docentes da escola, que se estenda aos discentes.
Não que
os temas das tecnologias já não façam parte do cotidiano
profissional de alguns, mas para cumprir com o objetivo de recriar e
atualizar nossa análise da cultura digital e dos desafios que a
contemporaneidade trouxe para as escolas, isso não basta, ser de
alguns, mas precisa ser de todos.
Com
Castells e Boff, estudamos que a cultura digital fornece-nos
instrumentos para a construção de uma sociedade mais democrática.
Como promover justamente uma sociedade mais democrática, se a escola
não se apropriar desses instrumentos, ao ponto de se tornar sua
cultura?
Jenkins alerta-nos que a escola é muito importante para o
alcance desse ideal, pois cabe-lhe ajudar crianças e jovens a
construir uma cultura digital mais participativa e ética a partir
das narrativas possibilitadas pelas TDIC. Pois não é no seio da
escola onde esses meninos e meninas tem sua esperança de futuro?
Milton
Santos, por sua vez, enfatiza a urgência de assumirmos o papel de
agentes na elaboração permanente do projeto da sociedade que
queremos e, para tal, aproveitarmos as potencialidades que a cultura
digital oferece-nos para termos mais voz e poder na sociedade, na
política e na economia.
De fato,
não podemos deixar passar a vez e a voz proporcionada pelas TDIC,
poderosos instrumentos que são de formação humana de uma sociedade
democrática, que uma vez construída como cultura nas escolas, se
mostrará infalível nesse objetivo emergente. Vamos à construção!
Eunice F
de F Eugênio
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