segunda-feira, 27 de abril de 2015

Reflexões sobre a cultura digital nas escolas sob minha inspeção escolar

Cultura digital e o cotidiano das escolas inspecionadas

Sou inspetora escolar. Visito as escolas sob minha responsabilidade, com objetivos diversos, entre eles orientação quanto às diversas legislações educacionais, tais como de vida de pessoal, vida escolar, área pedagógica, quadro de pessoal das unidades escolares, etc.
Participo do cotidiano das escolas. Não percebo uma cultura digital propriamente dita formada nesse ambiente. Me deparo com proibições de uso do celular, professores que acham desperdício de tempo uma aula na sala de informática, pessoal despreparado totalmente em relação às diversas tecnologias, e outras coisas do tipo. Não que eu mesma seja expert em tecnologias, mas falo de coisas básicas mesmo, conhecimento basicão.
Fico completamente impressionada com essa realidade, considerando que a escola é o lugar do saber, não apenas do saber conteudista, mas do saber significativo, do saber para a vida. E falando em tecnologias, falamos em saber para a vida cotidiana hoje, não existe mais separação, não existe possibilidade de vida além das tecnologias rsrs.
Mestre Paulo Freire já dizia “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” Logo, se a escola proíbe e não se apropria das tecnologias, não as usa para transformar a sociedade, esses educandos que são a promessa de continuidade da sociedade não serão mudados e não mudarão como é necessário para que a sociedade não morra em incoerências e inconsistências. Precisamos de que se provoquem, no cotidiano das escolas, perguntas e olhares que tragam novos entendimentos sobre o tema, que sejam capazes de produzir mudança primeiro nos personagens docentes da escola, que se estenda aos discentes.
Não que os temas das tecnologias já não façam parte do cotidiano profissional de alguns, mas para cumprir com o objetivo de recriar e atualizar nossa análise da cultura digital e dos desafios que a contemporaneidade trouxe para as escolas, isso não basta, ser de alguns, mas precisa ser de todos.
Com Castells e Boff, estudamos que a cultura digital fornece-nos instrumentos para a construção de uma sociedade mais democrática. Como promover justamente uma sociedade mais democrática, se a escola não se apropriar desses instrumentos, ao ponto de se tornar sua cultura? 
 Jenkins alerta-nos que a escola é muito importante para o alcance desse ideal, pois cabe-lhe ajudar crianças e jovens a construir uma cultura digital mais participativa e ética a partir das narrativas possibilitadas pelas TDIC. Pois não é no seio da escola onde esses meninos e meninas tem sua esperança de futuro?
Milton Santos, por sua vez, enfatiza a urgência de assumirmos o papel de agentes na elaboração permanente do projeto da sociedade que queremos e, para tal, aproveitarmos as potencialidades que a cultura digital oferece-nos para termos mais voz e poder na sociedade, na política e na economia.
De fato, não podemos deixar passar a vez e a voz proporcionada pelas TDIC, poderosos instrumentos que são de formação humana de uma sociedade democrática, que uma vez construída como cultura nas escolas, se mostrará infalível nesse objetivo emergente. Vamos à construção!


Eunice F de F Eugênio



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